24 de julho de 2010

Cotidiano

Mal abriu os olhos e já a sentiu.
Por que essa dor não vai embora?

Uma olhada rápida.
Está a procurar os chinelos.
Ali estão.
Sempre no mesmo lugar.

Levantou-se, abriu e fechou.
Todos as portas, todas as janelas,
abriu e fechou.

Cansou de olhar para o nada,
foi atrás do café.

É irônico o modo como o café amargo deixa sua vida doce,
sem dores, sem preocupações.
Ahh... o café.

O mesmo café que o faz esquecer tudo,
menos esquecê-la.

12 de julho de 2010

Escorpião

Sentou no canto da sala.
Lá ela ficou por horas, pensando no pior.
Pensando no que errou.

Foi rápida demais? Sincera demais?
Covarde demais? Humana demais?

O vento não lhe trouxe as respostas.

Com medo do que sentia,
se encurralou mais uma vez.
A razão de o fazer, ela desconhece.
Foi tão natural.

Seguiu seu instinto.

Toda a angustia, todo medo, todo pavor.
Toda a vida.

Provou seu veneno e o abandonou.

Pobre menina.

Seria completa se tivesse nascido escorpião?

11 de julho de 2010

Espelho

Devo me atirar?
Parar e pensar talvez?
Ela quer? Eu quero?

Devo ser mais feliz?
Fingir talvez?
Ela tentaria? Eu gostaria?

Devo olhar para frente?
Ou preciso olhar para os lados?
Ela viria? Eu iria?

Querendo ou não, os dois minutos e quarenta e três segundos se passaram.

Acho melhor largar o que me faria mal.
Os ''um'' em algarismos romanos não me ajudarão.

Talvez eu precise parar de falar sozinho na frente do espelho.

Será que ele me ouve?

Bom dia.